Que o Cerrado é uma gostosura, disso ninguém duvida. Outros
biomas já são e foram explorados gastronomicamente. Agora é a vez do Cerrado se
tornar mais conhecido pelo público em geral, já que ele ocupa quase 1/4 do
território nacional. Por isso, um grupo de chefs se reuniu para promover a
primeira edição do Festival Gastronômico Cerrado Week, tendo a capital como
palco. O evento acontecerá de 15 a 21 de setembro e contará com cafés, bares e
restaurantes de Brasília e já conta com mais de 30 estabelecimentos
confirmados.
“Nosso objetivo principal é ampliar o conhecimento do
público sobre o potencial gastronômico das espécies nativas do Cerrado e ao
mesmo tempo criar uma demanda regular para esses produtos, fomentando assim toda
a cadeia produtiva dos agroextrativistas e cooperativas que utilizam o bioma
como sua fonte de renda”, explica Ana Paula Jacques, coordenadora-geral do
Festival e co-líder do convívio Slow Food Cerrado.
Para isso, um dos pré-requisitos é que cada estabelecimento
crie um prato exclusivo para o festival, contendo, pelo menos, um ingrediente
nativo do Cerrado. Serão oferecidos diferentes preparações: desde o prato
principal em restaurantes (ao custo de R$39), até doces ou pães (a R$ 9),
passando por petisco (R$ 29) ou lanche ou sobremesa (R$ 19).
Restaurante Olivae, Trio Gastronomia, Restaurante Mucho
Gusto, Objeto Encontrado Galeria e Café, El Paso, Sorbê Sorvetes Artesanais,
Bar Godofredo, Alfredo Pizzaria, La Boulangerie, Parrilla Madrid, Oliver, Paradiso,
Dom Francisco, Loca Como Tu Madre, Universal, Calaf, Grand Cru, Paneteria
D’Oliva, Cartolaria Guara, Jambu, Daorla Showbar e Restaurante,O Realejo, a
Komboleria e os oito Restaurante-Escola Senac (MPDFT, CGU, Setor Comercial Sul,
Ministério da Justiça, STF, Câmara dos Deputados – Anexo IV, “Restaurante dos
Senadores” e Senac Downtown Brasília).
Além da Capital Federal, estabelecimentos de todos os
estados que compõe o Cerrado brasileiro (Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Piauí, São Paulo, Tocantins) poderão
participar. Já garantiram vaga os goianos Venda do Bento (Pirenóplis), Pitanga
Sabor e Equilíbrio (Goiânia) e Restaurante ComTradição (Olhos D’Água) .
O CERRADO
O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro e ocupa quase
1/4 do território nacional (2.036.448 km2), abrangendo o Distrito Federal, os
estados de Goiás, Tocantins, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Mato
Grosso, Piauí, São Paulo, Bahia, Rondônia e porções de Roraima, Amapá, Amazonas
e Pará. O bioma é conhecido como “berço das águas” ou “caixa d´água do
Brasil” por abrigar nascentes das principais bacias hidrográficas
brasileiras.Estudos apontam que existem cerca de 15 mil espécies de plantas no
Cerrado, além de uma fauna riquíssima, com aproximadamente 300 mil espécies de
animais. Mas, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, 132 espécies do
Cerrado constam na lista das espécies ameaçadas de extinção.
O CERRADO
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ComTradição e sabor
mai 31, 13
Texto e fotos: Jean Marconi
Aproveitamos um quinta-feira chuvosa, início de feriado
prolongado, com estradas ainda vazias e trânsito livre para conhecermos o
restaurante ComTradição, localizado em Olhos d’Água, distrito de Alexânia (GO).
Chegando ao local fomos recebidos por Paulo Machado,
sócio-proprietário do estabelecimento. Assim como Carlo Petrini, Paulo é
jornalista (pelo jeito, o jornalismo está rendendo ótimos gastrônomos).
O espaço é extremamente agradável, um casarão antigo recuperado e
ricamente decorado. Há uma área externa, com um belo jardim, mas naquela
manhã fria preferimos o calor que emanava do lado de dentro.
Paulo nos conta de sua paixão pela culinária e pelo resgate das tradições alimentares:“Fazer
a reconstituição de uma refeição segundo os preceitos dos nossos
antepassados é sempre um arriscado exercício de interpretação. E quanto
mais distante no tempo mais problemático se torna o seu cumprimento.
Primeiro porque mais escassas e complexas se tornam as fontes de
informação, depois porque mais alterações sofreram todas as
matérias-primas culinárias de uso corrente. Temos ainda que considerar
toda a evolução dos gostos e dos hábitos gastronômicos sofridos pelas
sociedades em geral e por cada um dos grupos sociais em particular.
Esses são os desafios permanentes da culinária ancestral do ComTradição”, completa.
Partimos pro almoço. De entrada, pão caseiro e banana
salteada na manteiga, além de alguns molhos e temperos, todos
produzidos pelo restaurante. Pra acompanhar o barreado, arroz branco ou
com tomate, farofa, feijão tropeiro e purê de abóbora, além de uma bela
mesa de saladas. Tudo muito bem feito e muito saboroso, mas o barreado é
espetacular. A carne macia quase derrete na boca, a harmonia dos
temperos, o aroma… As crianças que nos acompanharam diziam “é como o Remy (o ratinho do filme Ratatouille) faz quando mistura os sabores”. Sim, é um festival do paladar. Para acompanhar, um suco de limão com cidrão, este último também colhido no quintal.
Após o almoço, fomos conhecer a horta, de onde eles tiram os temperos e algumas folhas para a salada. “É difícil encontrar produtores orgânicos na região. Tudo está tomado ou pelo agrotóxico, ou pela monocultura”, comenta. Além disso, eles aproveitam as sobras para fazer compostagem.
Voltamos à mesa para uma sobremesa – doce de banana, artesanal – e uma prosa sobre o Movimento Slow Food. No meio da conversa, Janaína comenta o caso da escola em Jataí que
foi pulverizada por agrotóxicos, intoxicando 29 crianças. Paulo pede
licença, levanta-se e em poucos minutos volta com um livro de 265
páginas, intitulado “Um avião contorna o pé de jatobá e a nuvem de agrotóxico pousa na cidade”. O
exemplar é de autoria do próprio Paulo, sobre um caso semelhante
ocorrido em 2006, no município de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso,
pulverizado com agrotóxicos usados em plantações de soja. Infelizmente a
história e a impunidade ainda se repetem no Brasil.
Veja a galeria de fotos em: http://www.flickr.com//photos/slowfoodcerrado/sets/72157633862510957/show/with/8915780145/
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O vilarejo que respira arte
A 100 km de Brasília, há um pequeno paraíso chamado Olhos D'Água. O atrativo principal é o artesanato, mas há muitos outros encantos a serem conferidos lá
Rodrigo Craveiro - Correio Brasiliense - Redação Publicação:08/05/2013 16:34Atualização:08/05/2013 18:24
Boa pedida para descansar: o ar
bucólico do povoado erguido
em um vale é cercado por pequenas
cachoeiras e habitado por pessoas
simples e acolhedoras
bucólico do povoado erguido
em um vale é cercado por pequenas
cachoeiras e habitado por pessoas
simples e acolhedoras
Uma
igreja no centro da praça ainda de grama, o cruzeiro de madeira,
casinhas coloridas, a feira com produtos típicos e artesanais, um grupo
de senhoras praticando tai chi chuan numa manhã ensolarada de sábado.
Qualquer desavisado pode imaginar que se trata de uma pequena cidade do
interior, das mais charmosas. E é isso mesmo! Com pouco mais de 3,5 mil
habitantes e a apenas 102 km de Brasília, Olhos D'Água é um vilarejo com
vários atrativos turísticos e respira arte por todos os cantos.
Nas mãos de Lourenço, que molda o barro com maestria e suor; na genialidade de Fatinha, que transforma a palha em delicadas imagens sacras; na doçura do sorriso de Dona Nêga, a senhora que cria bonecas de pano com um estilo próprio, fiel às raízes do campo; na habilidade de Madalena, que se debruça sobre o tear. O ar bucólico do povoado erguido em um vale e cercado por cachoeiras, o charme do restaurante que é uma galeria de arte e o aconchego de pousadas têm atraído cada vez mais visitantes.
Em Olhos D'Água, o respeito à natureza e a reciclagem parecem ditar o ritmo da vida. Os artesãos têm por filosofia extrair recursos sem agredir o meio ambiente. Filha e neta de tecelãs, Maria de Fátima Dutra Bastos (mais conhecida como Fatinha) sempre escolhe a lua minguante para colher o milho e as plantas do cerrado, como o cedrinho, a folha da magnólia, a douradinha e o ingá. Nas colheitas, ela seleciona as folhagens respeitando o rebrotamento. “A natureza me ensina muito. Se você planta o milho na lua certa, não terá problemas de fungo. A fibra de bananeira tem de ser aberta, lavada no cloro, secada à sombra e coberta por impermeabilizante”, explica, ao revelar que segue os conselhos recebidos da avó.
Nas mãos de Lourenço, que molda o barro com maestria e suor; na genialidade de Fatinha, que transforma a palha em delicadas imagens sacras; na doçura do sorriso de Dona Nêga, a senhora que cria bonecas de pano com um estilo próprio, fiel às raízes do campo; na habilidade de Madalena, que se debruça sobre o tear. O ar bucólico do povoado erguido em um vale e cercado por cachoeiras, o charme do restaurante que é uma galeria de arte e o aconchego de pousadas têm atraído cada vez mais visitantes.
Em Olhos D'Água, o respeito à natureza e a reciclagem parecem ditar o ritmo da vida. Os artesãos têm por filosofia extrair recursos sem agredir o meio ambiente. Filha e neta de tecelãs, Maria de Fátima Dutra Bastos (mais conhecida como Fatinha) sempre escolhe a lua minguante para colher o milho e as plantas do cerrado, como o cedrinho, a folha da magnólia, a douradinha e o ingá. Nas colheitas, ela seleciona as folhagens respeitando o rebrotamento. “A natureza me ensina muito. Se você planta o milho na lua certa, não terá problemas de fungo. A fibra de bananeira tem de ser aberta, lavada no cloro, secada à sombra e coberta por impermeabilizante”, explica, ao revelar que segue os conselhos recebidos da avó.
A artesã Fatinha representa bem
a pequena omunidade: seu processo de
criação ocorre de forma instantânea,
natural, sem projetos ou desenhos
a pequena omunidade: seu processo de
criação ocorre de forma instantânea,
natural, sem projetos ou desenhos
Depois
de descobrir que poderia obter milho com outras cores naturais, Fatinha
conseguiu as sementes e hoje extrai até cinco tons diferentes da palha.
A natureza é matéria-prima para esculturas da Virgem Maria, de São
Jorge, de Santo Antônio, entre outros santos, todas à base de palha e de
fibra de bananeira. A busca pela perfeição está em cada detalhe: na
reprodução de movimento das vestes das imagens inspiradas no barroco,
nos passarinhos ciscando a túnica de São Francisco de Assis, no pequeno
presépio, na mandala do Divino Pai Eterno. O processo de criação ocorre
de forma instantânea, durante o manuseio do material, sem projetos.
O talento de Fatinha lhe rendeu três vezes o Prêmio Top 100 de Artesanato, concedido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), e uma participação no programa de TV global Mais Você, de Ana Maria Braga. O gosto pela arte começou quando criança; hoje, ela emprega cerca de 10 pessoas e, além de trabalhar como artesã, comanda a pasta de Cultura e Turismo do município de Alexânia, na qual firmou o compromisso de resgatar a Feira do Troca, o mais tradicional evento do vilarejo.
Foi brincando com o barro na casa de Dona Vilu, uma escultora amiga da família, que Sebastião Lourenço Silva tomou gosto pela arte. Hoje, Lourenço, como é conhecido em Olhos D'Água, mantém um ateliê em sua casa, onde produz e vende peças em argila, como uma grande de São Francisco de Assis, comercializada a R$ 150. O processo de produção dura quase 15 dias. A escultura da mulata segurando uma galinha que faz as vezes de floreira custa R$ 55. “Não tenho compromisso com a identidade da peça. A inspiração acontece”, diz.
A cerca de 100 metros do ateliê de Lourenço, Maria Araújo da Silva, a Dona Nêga, chega a chorar ao falar de seu trabalho. Aos 76 anos, é a bonequeira mais conhecida do lugar .“Eu fazia bonecas para minhas meninas brincarem. Em 1974, participei da Feira do Troca e vi que podia vender”, conta. Questionada sobre como ela dá vida às bonecas com vestidos de cores diversas, que remetem à mulher do campo, ela responde, com simplicidade: “Ué, é de cabeça mesmo”. Dona Nêga aproveita o retalho de algodão para fazer o corpo e os vestidos. Os preços de suas obras variam de R$ 3 a R$ 10. A paixão pela arte foi herdada da mãe, Dona Regina: “Eu fico fazendo assim e lembrando de minha mãe. Ela ficava perto de mim e falava que a minha tinha ficado melhor que a dela. Colocava nome nas bonecas todas”, conta. A fidelidade a um estilo próprio e à identidade goiana são as marcas de seu trabalho.
No fundo da casa de Madalena Conceição Alves Magalhães, uma máquina rústica de tear dá forma a um tapete multicolorido. Faxineira da escola de Olhos D'Água, ela é autodidata. “Vi uma amiga tecer e aprendi a fazer sozinha, em 1986”, afirma. “Eu trabalho por encomenda e sempre vendo minhas coisas só por aqui mesmo.”
As peças que mais saem são os móbiles de bruxa, de saci, de bailarinas e de violeiros, todas elas criações próprias, comercializadas a R$ 35. Os tapetes, feitos com barbante soberano, são vendidos a R$ 15. Madalena ensinou vários tecelões do vilarejo, algo que ela diz ter sido “gratificante”.
João Rodrigues, apelidado de Nequete, trocou a dura lida na lavoura pela marcenaria em Olhos D'Água. Diante de uma imensa mesa em formato de carro de boi, vendida a R$ 1.600, ele conta que se especializou em restauração e em utilizar peças antigas para recriá-las em forma de móveis. Uma cadeira de balanço estilizada sai por apenas R$ 200. Apesar de não ter o propósito comercial, o ex-bombeiro Gumercindo Quintão, uma das figuras mais folclóricas do vilarejo, também é um artista. Basta perceber a roda de bicicleta que “brota” da parede de sua casa ou as rodas d’água transformadas em janelas. No quintal, ele reforma uma ambulância ano 1938, que foi usada durante a Batalha de Monte Castello, na Segunda Guerra Mundial. O homem que plantou mais de 1.400 árvores em Olhos D'Água tem um sonho: reformar a ambulância, torná-la um motor home e sair mundo afora.
O talento de Fatinha lhe rendeu três vezes o Prêmio Top 100 de Artesanato, concedido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), e uma participação no programa de TV global Mais Você, de Ana Maria Braga. O gosto pela arte começou quando criança; hoje, ela emprega cerca de 10 pessoas e, além de trabalhar como artesã, comanda a pasta de Cultura e Turismo do município de Alexânia, na qual firmou o compromisso de resgatar a Feira do Troca, o mais tradicional evento do vilarejo.
O escultor Lourenço usa argila para fazer suas peças, em um processo que dura até 15 dias: "A inspiração acontece"
Foi brincando com o barro na casa de Dona Vilu, uma escultora amiga da família, que Sebastião Lourenço Silva tomou gosto pela arte. Hoje, Lourenço, como é conhecido em Olhos D'Água, mantém um ateliê em sua casa, onde produz e vende peças em argila, como uma grande de São Francisco de Assis, comercializada a R$ 150. O processo de produção dura quase 15 dias. A escultura da mulata segurando uma galinha que faz as vezes de floreira custa R$ 55. “Não tenho compromisso com a identidade da peça. A inspiração acontece”, diz.
A cerca de 100 metros do ateliê de Lourenço, Maria Araújo da Silva, a Dona Nêga, chega a chorar ao falar de seu trabalho. Aos 76 anos, é a bonequeira mais conhecida do lugar .“Eu fazia bonecas para minhas meninas brincarem. Em 1974, participei da Feira do Troca e vi que podia vender”, conta. Questionada sobre como ela dá vida às bonecas com vestidos de cores diversas, que remetem à mulher do campo, ela responde, com simplicidade: “Ué, é de cabeça mesmo”. Dona Nêga aproveita o retalho de algodão para fazer o corpo e os vestidos. Os preços de suas obras variam de R$ 3 a R$ 10. A paixão pela arte foi herdada da mãe, Dona Regina: “Eu fico fazendo assim e lembrando de minha mãe. Ela ficava perto de mim e falava que a minha tinha ficado melhor que a dela. Colocava nome nas bonecas todas”, conta. A fidelidade a um estilo próprio e à identidade goiana são as marcas de seu trabalho.
Dona Nêga é a bonequeira mais conhecida da região, e sua arte é acessível: os preços
variam de R$ 3 a R$ 10
No fundo da casa de Madalena Conceição Alves Magalhães, uma máquina rústica de tear dá forma a um tapete multicolorido. Faxineira da escola de Olhos D'Água, ela é autodidata. “Vi uma amiga tecer e aprendi a fazer sozinha, em 1986”, afirma. “Eu trabalho por encomenda e sempre vendo minhas coisas só por aqui mesmo.”
As peças que mais saem são os móbiles de bruxa, de saci, de bailarinas e de violeiros, todas elas criações próprias, comercializadas a R$ 35. Os tapetes, feitos com barbante soberano, são vendidos a R$ 15. Madalena ensinou vários tecelões do vilarejo, algo que ela diz ter sido “gratificante”.
O casal Paulo Sérgio e Ana Isabel, do restaurante ComTradição: resgate da forma tradicional
de preparar os alimentos
João Rodrigues, apelidado de Nequete, trocou a dura lida na lavoura pela marcenaria em Olhos D'Água. Diante de uma imensa mesa em formato de carro de boi, vendida a R$ 1.600, ele conta que se especializou em restauração e em utilizar peças antigas para recriá-las em forma de móveis. Uma cadeira de balanço estilizada sai por apenas R$ 200. Apesar de não ter o propósito comercial, o ex-bombeiro Gumercindo Quintão, uma das figuras mais folclóricas do vilarejo, também é um artista. Basta perceber a roda de bicicleta que “brota” da parede de sua casa ou as rodas d’água transformadas em janelas. No quintal, ele reforma uma ambulância ano 1938, que foi usada durante a Batalha de Monte Castello, na Segunda Guerra Mundial. O homem que plantou mais de 1.400 árvores em Olhos D'Água tem um sonho: reformar a ambulância, torná-la um motor home e sair mundo afora.
Madalena Conceição é autodidata e, por suas mãos, belos tapetes ganham forma:
"Vi uma amiga tecer e aprendi a fazer sozinha", conta
João Rodrigues, o Nequete, é
especializado em restauração e em
utilizar peças antigas para recriá-las
em forma de móveis
especializado em restauração e em
utilizar peças antigas para recriá-las
em forma de móveis
Para
comer e dormir, as dicas são fáceis, pois há poucas opções, de fato.
Uma delas é oferecida por Edelvais Jeker, dona da pousada Coisas de
Olhos. Em uma casa charmosa e aconchegante, as diárias saem por R$ 100
com café da manhã. Mais que uma pousada, ela tem ali um centro cultural,
vende sua própria arte – peças em madeira, estandartes de santos e
vasos de suculentas – e expõe as obras dos artistas do vilarejo. O
quintal é um convite ao deleite, com um jardim e uma cama verde
instalada à sombra de uma árvore. Segundo Edelvais, para admirar as
estrelas.
Basta atravessar a rua e dar mais alguns passos para chegar ao ComTradição Restaurante, Galeria e Bistrô. A casa é fiel ao estilo rústico. Uma parede reproduz, inclusive, o adobe e os móveis coloniais. Não menos surpreendente é a gastronomia praticada pelo casal Paulo Sérgio Barbosa e Ana Isabel Nunes Barbosa. “Procuramos resgatar a forma tradicional de preparo dos alimentos feitos pelos portugueses, indígenas e negros. Evitamos o uso de alimentos industrializados e a comida leva até oito horas para ficar pronta, em um cozimento lento no fogão a lenha", explica Paulo Sérgio, proprietário, que também é o chef de cozinha. O carro-chefe do ComTradição é o barreado, preparado com carne de porco, de vaca ou galinha caipira. Custa R$ 50, e o cliente pode se servir à vontade.
Feira do Troca
A comunidade de Olhos D'Água se mobiliza com vários
meses de antecedência para a Feira do Troca. Moradores de Brasília e de
outras cidades costumam prestigiar o evento, durante o qual são
trocados produtos da cidade, como roupas e utensílios domésticos bons,
por artesanato.
“Na 79ª edição, que ocorre entre 31 de maio e 2 de junho, nós pretendemos resgatar a nossa feira. Será um resgate da música, da comida e do artesanato. Teremos shows com músicas de raiz, vamos valorizar os produtos da roça e montar um rancho de biscoitos antigos e de comida típica”, conta a artesã Fatinha, secretária de Cultura e Turismo de Alexânia.
Haverá atrações inclusive para crianças e oficinas de fiandeiras, tecelãs, cerâmica, bordados e trabalhos em palha. A Feira do Troca acontece sempre nos primeiros domingos de junho e de dezembro.
Quando Drummond citou Olhos D'Água
“Anunciada de casa em casa, e depois de grande
expectativa, realizou-se a feira. Como o nome indicava, não era preciso
dinheiro para obter qualquer coisa. Bastava trazer um objeto feito pelo
próprio morador, e a compra se fazia em termos de permuta. Um tear feito
a canivete foi barganhado por um terno completo e um par de calçados.
Outro artista achou colocação para a sua escultura em madeira
representando a cena hoje quase impossível de se ver: dois homens
serrando uma tora com grupião, para fazer tábuas. Esgotada a produção
artesanal, os locais passaram a oferecer ovos e galinhas: fim de feira e
festa. Uma mulher muda exprimiu sua alegria com sinais, pedindo um
beijo.”
Carlos Drummond de Andrade, em artigo publicado pelo Jornal do Brasil, em 21 de janeiro de 1975
COMO CHEGAR
Siga pela BR-060 (Brasília-Goiânia) e dirija 87 km até chegar a Alexânia. Vá até a avenida 15 de Novembro e vire na Presidente Juscelino. Em seguida, à esquerda, vá em frente até chegar à Rodovia GO-139. Siga cerca de 10 km até a rotatória. Vire à esquerda e dirija por mais 4 km.
Basta atravessar a rua e dar mais alguns passos para chegar ao ComTradição Restaurante, Galeria e Bistrô. A casa é fiel ao estilo rústico. Uma parede reproduz, inclusive, o adobe e os móveis coloniais. Não menos surpreendente é a gastronomia praticada pelo casal Paulo Sérgio Barbosa e Ana Isabel Nunes Barbosa. “Procuramos resgatar a forma tradicional de preparo dos alimentos feitos pelos portugueses, indígenas e negros. Evitamos o uso de alimentos industrializados e a comida leva até oito horas para ficar pronta, em um cozimento lento no fogão a lenha", explica Paulo Sérgio, proprietário, que também é o chef de cozinha. O carro-chefe do ComTradição é o barreado, preparado com carne de porco, de vaca ou galinha caipira. Custa R$ 50, e o cliente pode se servir à vontade.
Feira do Troca
“Na 79ª edição, que ocorre entre 31 de maio e 2 de junho, nós pretendemos resgatar a nossa feira. Será um resgate da música, da comida e do artesanato. Teremos shows com músicas de raiz, vamos valorizar os produtos da roça e montar um rancho de biscoitos antigos e de comida típica”, conta a artesã Fatinha, secretária de Cultura e Turismo de Alexânia.
Haverá atrações inclusive para crianças e oficinas de fiandeiras, tecelãs, cerâmica, bordados e trabalhos em palha. A Feira do Troca acontece sempre nos primeiros domingos de junho e de dezembro.
Quando Drummond citou Olhos D'Água
Carlos Drummond de Andrade, em artigo publicado pelo Jornal do Brasil, em 21 de janeiro de 1975
Gumercindo Quintão, uma das figuras mais folclóricas de Olhos D'Água, também é artista:
uma roda de bicicleta "brota" da parede de sua casa
Siga pela BR-060 (Brasília-Goiânia) e dirija 87 km até chegar a Alexânia. Vá até a avenida 15 de Novembro e vire na Presidente Juscelino. Em seguida, à esquerda, vá em frente até chegar à Rodovia GO-139. Siga cerca de 10 km até a rotatória. Vire à esquerda e dirija por mais 4 km.
Domingo, 17 de fevereiro de 2013
Gisele Gama Andrade (*)
Convidada especial do Gastronomix
A mais ou menos 100 km de Brasília, a caminho de Goiânia, há um lugar a
ser visitado: Olhos D’água. A cidade, parte do município de Alexânia, tem sido
aos poucos povoada de brasilienses e candangos que lá encontram a paz e a
tranquilidade típicas dos vilarejos de interior.
A cidade, por si só, já vale a visita, mas o grande tesouro se esconde
nas mãos de Paulo e de Ana, ele um estudioso e mago da gastronomia, ela uma habilidosa artista e anfitrião, que há
sete meses comandam o restaurante ComTradição.
A primeira vez que estive lá foi uma surpresa muito agradável. Nas
festas de fim de ano, com a cidade cheia,
fui recebida pelo casal Paulo e Ana como se nos conhecêssemos há muito
tempo. O ambiente, para lá de acolhedor, um misto de galeria e bistrô,
nos dá a ideia de estarmos sendo recebidos em sua casa. A música ao
fundo, sempre deliciosa, nos convida a uma estada longa, como devem ser
os almoços na roça.
As varandas que cercam o restaurante são convidativas. As famílias se
espalham, com as crianças brincando livremente, como no quintal de casa.
Mas o melhor da experiência é, sem dúvida, a culinária. O cardápio é
verdadeiramente sensacional. Convidei Paulo e Ana, em uma de minhas visitas ao
local, a se sentarem à minha mesa, o que prontamente fizeram, sempre com grande
simpatia.
Quis saber sobre o conceito do lugar e o porquê de seu nome. Paulo,
pacientemente, me explicou que o restaurante procura resgatar as tradições
culinárias de nossa terra, que vem sendo apagadas pela correria do cotidiano. Lá,
os produtos industrializados são mínimos. Tudo é feito da forma mais natural
possível. A pesquisa é parte constante do cardápio, que procura agregar sabores
tradicionais a paladares exigentes. A comida, feita em fogão à lenha, é cozida
sem pressa, com matéria-prima fornecida por agricultores do entorno, sem
agrotóxicos ou pesticidas.
Mas o prato mais espetacular do restaurante é, sem dúvida, o barreado.
Ele é fruto de um longo estudo e de muitos testes. Paulo queria oferecer no
restaurante algo que justificasse que os brasilienses se deslocassem de suas
casas até lá. Na minha opinião, conseguiu. O barreado mistura as tradições
indígenas, portuguesas e africanas, e é feito com o vagar que exige a comida da
roça. De frango caipira, carne de porco ou de vaca, é fartamente acompanhado
por deliciosos sabores. É uma experiência gastronômica inigualável, um
verdadeiro resgate de sensações. Vale conferir!
Olhos D´Água - Goiás
Reservas: (62) 3322-6211 ou pelo
email reservas@comtradicao.com.br
(*) Gisele Gama Andrade é
diretora-presidente da Abaquar Consultores, empresa que trabalha com projetos
educacionais e sociais. Ela se define como cariocandanga, pé lá, pé cá, cidadã
do mundo. A missão de Gisele é melhorar a educação brasileira, como é a dos que
me cercam. Sempre com a cabeça a mil, a educadora só gosta de aventuras
urbanas.
Leiam na Revista Roteiro n. 207 de Agosto de 2012 uma excelente matéria sobre o ComTradição feita pela jornalista Ana Cristina Vilela. Sob o título: "Sabor, arte e história" na página 6 - seção Água na Boca.
Assim Ana começa sua reportagem: "Não é preciso mais ir ao Paraná para comer um barreado.
Basta ir a Olhos d’Água, a apenas uma hora de Brasília."
A Revista Roteiro, além de apresentar dicas gastronômicas de restaurantes de Brasília, abriu espaço para os arredores da cidade proporcionando ao seu público mais opções para lazer, alimentação e conhecimento da região. Agradecemos a todos pela oportunidade de mostrarmos um pouco de nossa culinária e em especial à jornalista que conseguiu traduzir de forma simples e objetiva nossa filosofia de vida e de trabalho.
Leia mais em: http://www.roteirobrasilia.com.br/
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